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Resenha: "Eden vol. 1" de Hiroki Endou

26/12/2017

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Por Paulo Vinicius F. dos Santos.
Sejam bem-vindos a uma Terra onde uma terrível doença chamada Closer afetou boa parte da humanidade causando inúmeras mudanças geopolíticas. A família Ballard tenta se adaptar a essa nova realidade à sua própria maneira.
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Ficha Técnica:

Nome: Eden vol. 1
Autor: Hiroki Endou
Editora: JBC (no Brasil)
Tradução: Denis Kei Kimura
Gênero: Ficção Científica
Número de Páginas: 450
Ano de Lançamento: 2013 (no Brasil)

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Sinopse: O vírus Closer domina o globo, rompendo as barreiras entre nações e etnias e mergulhando a raça humana no caos de um futuro distópico. Será que os humanos resistirão a este novo mundo?
Eu tenho uma história com esse mangá. Lembro de ter tentado colecioná-lo lá em idos do início da minha fase adulta. Na época ele era lançado por outra editora e tinha uma publicação muito espaçada. Chegavam poucas unidades nas bancas e comprar uma edição era quase uma caça às bruxas. Mesmo assim a história tinha me cativado e eu consegui comprar até o volume 7. A publicação era feita em formatinho meio tanko então só esse volume aqui já representa metade do que eu havia lido anteriormente. Esse ano eu voltei a comprar mangás, e adivinha qual foi o primeiro? Ler essa série é uma questão de honra para mim.

Esse primeiro volume é extremamente eficiente em fazer o básico: te apresentar o mundo, os personagens e a narrativa, causando tamanho impacto no leitor que ele quer comprar o próximo volume. A escrita do Hiroki Endou é envolvente e questionadora em vários momentos tocando em temas bem interessantes. O roteiro não compromete e mesmo nas cenas de ação o autor é capaz de entregar momentos bem orgânicos. Isso sem se tornar uma longa sequência de cenas de ação. Admito que não gosto muito de mangás que se focam mais na ação do que no enredo, por esse motivo eu acabo sendo muito seletivo com o que eu compro. Os capítulos são bem interligados, apesar de eu não ter entendido o propósito do capítulo especial que se situa entre os capítulos 4 e 5. Era para apresentar a irmã da Hannah?

Os desenhos do Endou são bons. Ele consegue alternar o rosto dos personagens mesmo mantendo o estilo de olhos grandes. Você percebe que o grupo da Sophia é formado por membros de diversas etnias (apesar do coronel ser o muçulmano mais japonês que eu vi na minha vida). Mas, as meninas que são resgatadas realmente parecem não-japonesas. Endou gosta também de trabalhar expressões faciais bem representativas: a gente percebe quando o personagem está com raiva, feliz ou reflexivo. Fica nítido em suas expressões. Um ponto alto nos desenhos de Endou são os cenários de fundo: riquíssimos em detalhes. Adorei as imensas cidades em ruínas que me fizeram lembrar das filmagens de Eu Sou a Lenda. Aquelas construções florestais em ruínas tomando os imensos arranha-céus, postos de gasolina e lojas. Ou quando o autor traz a ação para as ruínas de Macchu Picchu e procura representar as ruínas incas. Achei que ele podia ter se espraiado mais aqui, mas okay, deram o efeito desejado. Eu só não gostei de algumas construções robóticas que eu vi nos primeiros capítulos. Pareceram apressadas e genéricas. Quando conhecemos Sophia que possui muitos detalhes robóticos, aí sim tudo muda de figura. Ah, e não posso esquecer do efeito dado pelo vírus Closer nos personagens. O efeito quebradiço é incrível mesmo.

A maneira como o autor nos coloca imersos na história é bem eficiente. Ele não nos afoga em tudo o que existe no mundo, mas vai nos apresentando aos poucos. Nesse sentido podemos observar dois personagens-orelha: Hannah Ballard e depois Elijah Ballard. No Prólogo, Hannah funciona como o leitor na narrativa. Ela vai nos mostrando os cenários e os acontecimentos e vamos vendo a gravidade de tudo o que aconteceu ao mundo. Tanto é que nem conhecemos tanto do que Hannah pensa acerca de tudo o que está acontecendo. Elijah também é uma tela em branco até o momento. Quero entender ainda o que ele estava fazendo com Cherubim no meio do nada. Mas, Elijah vai nos mostrando o que aconteceu com o mundo depois da descoberta da cura para o Closer. Mesmo diante do grupo de Sophia, Elijah está ali ainda observando tudo o que se passa. Ele vai tirando suas conclusões como se fosse alguém de fora (e toma um fora da Helena justamente por isso).

Esse primeiro volume é muito focado em aspectos religiosos. Me parece que o autor deve discutir muito esse tema da fé e de como o ser humano se relaciona com o sagrado mesmo em um mundo decadente. São muitos questionamentos nesse sentido para ser uma mera coincidência:

- um mundo decadente deveria ser "resetado"?
- por que Deus permitiria que tantas desgraças se abatessem sobre o homem?
- se rezarmos, seremos realmente atendidos ou isso é apenas um ópio para os nossos problemas?

O primeiro questionamento será a mola propulsora do começo da história. Tudo começa com uma revolta de um dos membros da equipe de Lane e Chris que se revolta contra tudo e deseja que o ser humano desapareça para sempre. O detalhe é que esta revolta surge a partir de um acontecimento trágico na vida do personagem. Lane que já tinha uma visão cética acerca de tudo compra a ideia para si o que acaba ocasionando tudo o que se sucede a seguir. Chris quando retorna mais à frente também está com o mesmo espírito de Lane. O que ele busca quando retorna é algo muito mais pessoal do que simplesmente salvar a humanidade. Quando a história retoma com Elijah vinte anos depois, vemos um personagem ainda muito inocente tentando encontrar sentido no que não faz sentido. A dispersão do Closer não foi uma vontade divina, mas uma providência humana. O que ele busca é entender por que o divino não toma providências para dar ao ser humano uma segunda oportunidade.

Já quando passamos para a parte de Helena e Kachua vemos duas meninas afetadas por tudo o que há de ruim no mundo. Ambas acabam se tornando prostitutas sem opção pelos membros da Propater. Enquanto Kachua mantém vínculos com seus ancestrais incas, buscando iluminação em mundo de trevas, Helena é uma mulher mais prática. A segunda precisou aprender a sobreviver diante de uma realidade cruel. O autor nos mostra também um outro lado da revolta rebelde nos mostrando as limpezas étnicas que acontecem nos territórios controlados pelos guerrilheiros. Ainda quero entender por que essas limpezas ocorrem. Quando Helena é encontrada pelos protagonistas, sua visão de mundo é bem melancólica, mas começamos a ver alguma mudança ao longo da estadia com Elijah e companhia. Das duas, Helena é a personagem que mais me intrigou enquanto Kachua tem uma construção mais simplória.

O grupo de Sophia é completamente disfuncional. Temos um especialista em explosivos que tem algum tipo de conhecimento intelectual diferente, um assassino cruel que possui algum tipo de trauma pesado, um coronel muçulmano com um estranho passado e uma mulher de 41 anos em um corpo de uma menina de metade da sua idade. Isso é uma receita para um vulcão completo. Tanto que vemos alguns dos personagens se chocarem. Ficamos conhecendo um pouco mais de Sophia nesse primeiro volume. É incrível o que ela passou e ainda conseguir manter sua sanidade. Ou será que manteve mesmo? O seu papel no grupo é de ser o elemento de ligação entre estes vários seres absolutamente voláteis. Quase como se tivesse um papel materno sobre todos. Quando o autor ia começar a deslindar um pouco mais dos personagens fomos colocados em uma cena de ação muito legal. Okay, fica para a próxima os demais desenvolvimentos.

Tem muita coisa para falar, mas vou guardar alguma coisa para comentar na próxima resenha. Esse mangá é um prato cheio para quem gosta de boa ficção científica. Tem ação, tem desenvolvimento de mundo, tem altas ideias, tem tudo o necessário. E consegue produzir um dos melhores primeiros volumes de mangás que eu já fui capaz de ler. Impactante aonde precisa ser, interessante em diversos momentos e com cenas de ação de deixar o queixo caído.


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Resenha: "Helter Skelter" de Kyoko Okazaki

11/12/2017

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Por Paulo Vinicius F. dos Santos.
Lilico é uma modelo de sucesso. Em um mundo regado a luxo onde a beleza e o pecado se confundem, a nossa protagonista vai se ver vítima de seu próprio investimento em si.
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Ficha Técnica:

Nome: Helter Skelter
Autora: Naoko Okazaki
Editora: New Pop (no Brasil)
Gênero: Drama
Número de Páginas: 320
Ano de Publicação: 2016 (no Brasil)

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Sinopse: Ganhador do “Prêmio Cultural Osamu Tezuka” de 2004, Helter Skelter é uma história de volume único da controversa Kyoko Okazaki. Após várias plásticas extensivas e manutenção vigorosa, Lilico se tornou a beleza em pessoa, se tornando uma modelo, atriz e cantora de enorme sucesso. No entanto, logo seu corpo começa a reagir mal às tantas cirurgias e ela se vê em decadência física. Agora ela é obrigada a encarar as consequências do que fez e o inevitável fim.
Alguns quadrinhos ou mangás a gente acaba pegando no bolo junto com outros objetos de desejo. Helter Skelter entrou na minha wishlist há vários meses e por lá ficou por muito tempo. Em uma dessas compras grandes, acabei pegando o mangá junto e ele novamente entrou na pilha de leituras futuras. Um dia desses decidi pegar alguma coisa diferente para ler. E qual não foi a surpresa de o mangá ser absolutamente arrepiante...

Deixa eu tirar de cara o único ponto negativo de Helter Skelter para tecer só elogios depois. O traço. Para quem está atrás de um desenho bacana ou traços incríveis, saia fora. Helter Skelter não é para você. Apesar de a Naoko caprichar em alguns capítulos, no geral se trata de um mangá bem experimental e de vanguarda. Então os traços são estranhos em várias partes parecendo até rascunhado de vez em quando. Parece ter sido uma jogada proposital da autora de forma a demonstrar a decadência da personagem de ídolo pop a um ser horrível no final da história. Outra coisa para reclamar: a tradução. Não posso dizer muita coisa a respeito já que é apenas o segundo trabalho da New Pop que eu resenho, mas o pessoal da internet sempre tece alguma reclamação nesse sentido. Aqui tem vários problemas de tradução e até de ideogramas que constituem onomatopéias que não foram traduzidos. Tá... estou sendo fresco com onomatopéias? Olha... não sei não. Tem outras editoras que tem uma preocupação maior com isso. E tradução é tradução. Não importa se é um texto complexo ou um som no formato de palavra.

Mais um aviso: este é um mangá pesado, mais voltado para maiores. Tem cenas de sexo bem explícitas, a personagem faz diversas insinuações e tem emprego de medicação ilegal (tudo isso faz parte do contexto da história). Então não recomendo isso para menores. Se bem que no mundo de hoje, né...

Vou começar falando sobre a Lilico. E que protagonista desagradável. E como a Naoko consegue escrever uma protagonista repleta de defeitos ser tão fascinante. Quem imagina que a Lilico é apenas uma idol burra e manipulável, vai se enganar feio. Ela é dona de uma inteligência incrível e maliciosa e sabe empregar as pessoas para aquilo que ela deseja. No começo ela só incomoda um pouco, mas com o passar dos capítulos a gente vai desenvolvendo um asco terrível pela personagem. À medida em que ela vai montando os esquemas dela para continuar no topo, vamos vendo o quanto ela vai decaindo junto com o corpo dela. Ao mesmo tempo ela é uma personagem feminina incrível. Lilico sabe seduzir homens e mulheres e colocá-los a seus pés. O que ela quer, ela vai correr atrás e persistir até conseguir. Assim foi com a noiva de Nanbu e até quando ela quis apenas se divertir. Tem algumas frases dela que são impactantes.

"O motivo de as pessoas acharem os famosos interessantes é porque eles são uma anomalia como o câncer."

Ou essa outra aqui:

"Quero só me divertir arruinando os outros. Fazer o quê? Afinal, também estou sendo arruinada pelas outros."

Naoko nos introduz ao mundo cruel da moda e dos famosos. O quanto alguém pode chegar para obter o máximo de beleza. Mama é a empresária de Lilico e tenta tornar sua contratada em uma réplica de si. Para isso ela faz a protagonista se submeter a uma série de cirurgias plásticas de caráter extremamente duvidoso. Com isso, Mama precisa lidar com uma pessoa que se torna instável à medida em que seu corpo vai se deteriorando. Em diversos momentos na história, Lilico faz uma série de ações absurdamente irrepreensíveis apenas porque sim. E ela assume completamente a autoria de suas ações. Quando chega um ponto crítico, Mama parte para outra. E esse é o mundo da moda. Em um dia, uma modelo está no topo, participando de campanhas, comerciais, pôsteres. No outro ela precisa pagar o preço do investimento que ela fez em si mesma. A vida de uma modelo é curta. De certa forma quando Lilico reclama que Hada teve uma vida muito fácil, ela está usando a si mesma como espelho.

E aí chegamos no casal formado por Hada e seu namorado. Inicialmente Hada é apenas a assistente de Lilico, mas conforme a história vai se passando ela se torna a marionete de Lilico. Temos aqui o desenvolvimento de uma trama altamente sexual e suja porque Hada vai desenvolvendo um lado obscuro ao ser submissa à protagonista. A gente enxerga uma relação abusiva no começo entre patrão e empregado, mas depois somos levados a um outro lado: Hada gosta disso. Ao ser uma pessoa insegura e incerta, ela vê no abuso uma saída para a sua vida medíocre. E ela vai fazer todo o possível e imaginável para agradar Lilico. E isso vai levá-la a extremos. No final, a relação bacana entre Hada e seu namorado se degradou a algo completamente absurdo. Se podemos ver algum personagem que percorre uma trajetória semelhante à protagonista, são esses dois.

Temos que falar também sobre a indústria de cosméticos e cirurgias plásticas profundamente criticada pela autora. Tem um subplot de investigação feita por um promotor público que busca denunciar práticas como o emprego de fetos para a confecção de produtos de beleza ou a transformação do uso de remédios para manter os resultados de uma cirurgia em um vício. Aqui o leitor percebe o quanto essa indústria é perniciosa, porque ela acaba se escorando em empresários milionários e estendendo os seus tentáculos pela sociedade. A maneira como essa indústria não pode ser tocada caso contrário encostamos nos interesses de pessoas muito influentes.

Helter Skelter é um caldeirão de temas interessantes. Uma personagem desprezível e fascinante pega na nossa mão e nos guia através de uma jornada de autodestruição no mundo da moda e dos famosos. Com uma escrita direta e crua, Naoko nos apresenta uma história incrível e difícil de engolir em vários momentos. Fica aqui a minha recomendação para esse mangá que merece ser lido. Mas, é preciso ter estômago para tal.

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