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As crianças sempre tem desaparecido sob as condições certas: desaparecendo pelas sombras embaixo da cama ou atrás de um armário, descendo por buracos feitos por coelhos e seguindo para velhos poço, e emergindo em outro lugar.
Mas, terras mágicas possuem pouco uso para crianças de milagres fajutos.
Nancy desceu uma vez, mas agora ela está de volta. As coisas que ela viu... eles mudam uma pessoa. A criança sob os cuidados de Miss West entendem tudo muito bem. E cada uma delas está buscando uma forma de voltar de seu próprio mundo de fantasia.
Mas, a chegada de Nancy marca uma mudança na Casa. Existe uma sombra atrás de cada canto da casa e o que a tragédia atingir, fica a cargo de Nancy e seus colegas recém-encontrados para chegar à solução dos problemas.
Custe o que custar.
A escrita da Seanan aqui neste livro é bem diferente do que eu estou acostumado a ver em outras obras. Ela não segue aquele padrão de altos e baixos, através da criação de momentos calmos seguidos de impactos e emoções e depois retornando a um momento calmo para seguir outro clímax. O livro segue um ritmo bem cool, bem moderado, do começo ao fim. Vou fazer uma comparação besta: enquanto que muitas obras são como livros de rock (com uma letra maneira que conduz a um refrão de impacto), Every Heart é como uma bossa nova (tranquila e constante). Isso pode agradar a alguns leitores e a outros não. A narrativa é em terceira pessoa, mas vista do ponto de vista da Nancy. Curioso que eu achava que o personagem ponto de vista seria a Eleanor, e a autora me surpreendeu nisso.
Os personagens são muito interessantes. Cada um deles é uma criança que se perdeu em algum mundo bizarro. A Nancy foi a um mundo dos mortos, a Sumi pertencia a um mundo a la Wonderland, a Jack a um mundo sobrenatural com vampiros, o Kade a um mundo de fadas... Enfim, cada criança é oriunda de um mundo diferente. Elas acabaram indo parar nestes mundos ao abrir um portal que pode ser uma simples porta até uma casinha de bonecas. O conceito é muito interessante e se assemelha às Crônicas de Nárnia quando as crianças entram pelo armário e saem em outro mundo. Claro que a autora dá um twist bem macabro nessa ideia. Todas as crianças possuem uma ligação indissociável com os seus mundos, sendo que estes preencheram algum vazio existencial que eles possuíam. Por mais absurdo ou bizarro que o mundo seja, a autora te deixa com uma pulga atrás da orelha se eles terem sido levados a estes mundos não teriam preenchido alguma necessidade profunda da alma deles.
Seanan não alivia em muitos momentos. Sexualidade e violência são discutidos livremente. Aliás, quem acha que está diante de uma literatura YA ou infanto-juvenil vai se assustar com algumas tiradas. Por exemplo, Nancy é assexual. Nas palavras dela, ela gosta de flertar e ser flertada, mas não vê nenhuma utilidade no ato sexual. Então a voz da personagem na história parece fria e distante. Já Sumi fala obscenidades com uma tranquilidade avassaladora. Ela perguntando se a Nancy se incomodava se ela se masturbasse à noite foi ótimo. Não estou dando spoiler, galera... está no segundo capítulo isso,tá! Juro!! Já Jack é uma baita de uma sociopata. Tendo sido criada por um doutor que fazia experiências cruéis com corpos humanos, ela enxerga o próximo como uma possibilidade de explorar algum mistério biológico. Matar para ela é tão normal quanto tomar um café. Sumi é totalmente pirada. Por ter estado em um mundo nonsense, nenhuma de suas ações faz muito sentido. Em um momento ela pode estar te abraçando e no outro te esfaqueando apenas porque sim. Nonsense.
Não sei se a ideia era construir uma história fechada a cada volume ou se fazer uma série de livros veio depois, mas o leitor pode ler só esse livro aqui e fechar o livro de uma maneira bem satisfatória. Ela começa e termina a narrativa, amarrando todas as pontas soltas. Temos aqui uma investigação de assassinato. Alguns alunos da escola estão morrendo de formas bem bizarras e todos dentro da escola são suspeitos de terem cometido o crime. É a velha história de pessoas trancadas em um lugar onde todos tem alguma origem estranha e podem ter cometido algum crime na história. Desconfiamos de todos. A narração deixa até o leitor em dúvida se Nancy foi ou não responsável pelo ocorrido. Entretanto, preciso dizer que mais ou menos por volta de 40% da trama eu já tinha descoberto o responsável. A autora tirou uma personagem de nossa vista propositalmente. Até demais.
Gostei demais da construção de mundo. A maneira como a Seanan vai compondo a origem das crianças, como elas chegaram e como elas se relacionam entre si dá pano para várias histórias. Acho até que o formato de novella caiu como uma luva para esta história. Se fosse em um romance mais longo, talvez a autora tivesse perdido a mão dando gordura demais para a história. Tendo uma limitação ela precisou ser mais direta na condução da narrativa. Mas, eu achei o final um pouco apressado. As situações que conduzem ao desfecho são colocadas muito em cima da outra, e o clímax acabou sofrendo pela pressa em encerrar todos os plots. Talvez tenha sofrido muitos cortes em uma revisão final. Não tira o fato de que o livro é incrível, só dá aquela coçada na cabeça que poderia ter sido épico.
Every Heart a Doorway é tudo aquilo que é comentado na internet e mais um pouco. O hype faz justiça à trama colocada pela autora. Diferente, criativo e repleto de surpresas, Seanan McGuire nos introduz a um mundo em que nada é o que parece ser. Uma escrita tranquila e constante que vai nos conduzindo capítulo a capítulo em uma jornada emocionante onde cada um dos personagens procura descobrir o seu lugar no mundo. E junto com eles, vamos nos surpreender e nos emocionar com suas histórias e tentar entender que em cada coração existe um portal que pode nos levar aos mais diferentes mundos.