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Resenha: "As Águas-Vivas Não Sabem de Si" de Aline Valek

2/2/2017

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Por Paulo Vinicius F. dos Santos.
Em uma história sobre exploradores do fundo do mar, veremos o quanto o mar pode ser gigantesco e o quanto nós mesmos somos pequenos. Aline Valek nos mostra também que não estamos ainda preparados para estabelecer contato com outras civilizações.
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Ficha Técnica:

Nome: As Águas-Vivas Não Sabem de Si
Autora: Aline Valek
Editora: Rocco
Gênero: Ficção Científica
Número de Páginas: 296
Ano de Publicação: 2016
Avaliação:




Sinopse: A três mil metros de profundidade, o oceano é um mundo sem luz, cheio das mais curiosas formas de vida e em sua maior parte inexplorado para quem vive na superfície. É nesse ambiente que mergulha Corina, flutuando no escuro como um astronauta no espaço, do jeito que gosta: cercada de água. Mas também perseguida pela sensação de que não deveria estar ali. Está sendo observada? Corina faz parte de uma equipe que pesquisa os arredores de uma zona hidrotermal com o objetivo de testar trajes especiais de mergulho. Cinco pessoas trabalhando isoladas, da superfície e umas das outras, numa estação a trezentos metros de profundidade. Como o abismo diante delas, escuro e insondável, cada uma dessas pessoas tem algo a esconder. Incapaz de afogar uma doença que pode pôr tudo a perder, Corina se vê obrigada a enfrentar seus dilemas e os dos colegas, em uma expedição liderada por um cientista com uma obsessão: encontrar inteligência no fundo do oceano. Uma história sobre mergulhar na solidão e ao mesmo tempo se cercar das vozes que pulsam no oceano. Uma história que convida a suspender o fôlego e a ouvir. Uma história que lança a inquietante dúvida: se as águas-vivas não sabem de si, sobre o que sabem então?
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Ler esse livro foi uma experiência. Positiva, mas uma experiência. Isso porque eu fui fisgado de cara pela proposta apresentada na orelha pelos editores do livro. Cheguei até a imaginar que seria um daqueles livros de hard sci-fi que iria fritar os meus neurônios com tantas altas ideias. Mas, o que eu recebi ao final da leitura foram neurônios fritados, mas em outro sentido. A autora fez com que eu parasse e refletisse sobre alguns pontos da nossa própria existência como seres humanos. Fiquei extremamente satisfeito com uma leitura de alto nível dessas. Apesar de que eu sei que não é o tipo de leitura que vai agradar a todos.

Queria começar a resenha comentando sobre um dos pontos polêmicos acerca do livro: os capítulos narrados por animais marinhos. Muitos não gostaram e acharam que tira um pouco do foco narrativo. Eu acho justamente o oposto; esses são os capítulos mais ricos da história. A autora apresentou algumas propostas no início da narrativa que ela vai deslindando à medida em que a história vai se passando. Individualismo x coletivismo, viver sozinho x viver em grupo... Os capítulos narrados por estes animais servem para que possamos entrar na mente desses seres e perceber como o ser humano pensa de maneira diferente. Os belos cachalotes se comunicam através dos sons e entram em túneis formados por estes sons, produzindo uma bela melodia; os extintos azúlis viviam em uma sociedade complexa e organizada até que a evolução e o surgimento de outras espécies destruiu a sua existência, substituída pelos espectros; uma lula observa uma estranha luz e a pega por despertar sua curiosidade. Estes interlúdios são essenciais para trabalhar os pontos demarcados pela autora. Alguns deles não funcionam tão bem quanto outros. Para mim o interlúdio das cachalotes, dos espectros e dos azúlis funcionaram muito bem... até o das águas-vivas me chamou muita atenção. Principalmente porque este último tem relação direta com a trajetória de Corina.

Algumas falas da autora são extremamente interessantes. O fato de sempre pensarmos as raças alienígenas como humanóides é pura arrogância do homem. Por que a forma humanóide é tão perfeita? E você aí? De que maneira imaginou os azúlis? Ou então a colocação dela em vários momentos de que o homem não deveria estar ali no fundo do mar. De certa forma podemos levar isso para a exploração espacial. Por mais que nos esforcemos, alguns tipos de ambientes não foram feitos para abrigar humanos. Talvez outras formas de vida estejam muito próximas de nós e sejam tão diferentes que não somos capazes de nos dar conta disso.

Adorei também a dicotomia entre individualismo e coletivismo. Em nenhum momento a autora defende um dos lados, mas apresenta ali os prós e os contras. Ou melhor, apresenta como ambos são diferentes. Corina passa boa parte da história tentando se manter isolada, mas quanto mais ela se esforça, mais as pessoas se socializam com ela. Quando ela percebeu que passou a depender muito das pessoas, ela acaba por tomar uma resolução egoísta no final. O ambiente claustrofóbico da estação marítima acaba fazendo com que estes seres humanos que coabitam um mesmo lugar sejam obrigados a sair de suas conchas e se relacionar com os outros. Mesmo que todos eles tenham esqueletos no armário. Em vários momentos, o leitor fica desconfortável com aquela situação... quando Corina acaba tomando certas atitudes impulsivas a história começa a andar mais rapidamente e as situações que ela cria acaba obrigando os demais personagens a tomarem alguma decisão.

A narrativa da autora é em terceira pessoa apesar de em alguns capítulos ela dar pistas de que poderia ter usado uma narrativa em primeira. Mas, acho que da maneira como ficou, está excelente. A escrita da autora é bem visual e consegue fazer o autor sentir a imensidão do oceano. O leitor realmente se sente pequeno diante daquele universo repleto de vida e inimaginável ao mesmo tempo para nós. Alguns trechos são um pouco mais truncados e exigem bastante da sua atenção. Principalmente os trechos em que ela fala a partir do ponto de vista das criaturas marinhas. Ou seja, a escrita flui, mas não com tanta facilidade. Mas, ela acaba recompensando o leitor ao final.

Os personagens secundários são muito bem construídos. Seus dramas e problemas ajudam para fomentar a claustrofobia da estação onde eles se encontram, o que é essencial para a trama. Eles formam aquele núcleo e para o bom funcionamento da estação é necessário que todos funcionem adequadamente. Mas, isto é o que menos acontece e os problemas acabam se acumulando até estourar completamente em algo irreversível. O curioso é que a história começa bem realista e pouco a pouco ela vai tomando outros rumos até alcançar um nível fantasioso. É curioso como a autora vai construindo esse cenário pouco a pouco, inserindo elementos fantásticos aqui ou ali até formar um conjunto indissociável. Ao final eu não sou capaz de separar uma coisa da outra.

O final acaba sendo previsível. Não no sentido ruim do termo. Isso porque ao percebermos a jornada de Corina, acabamos imaginando o que vai acontecer a ela. Ela não esconde isso em nenhum momento. O leitor é que acaba torcendo por alguma mudança dela ou alguma redenção ou salvação, mas ela não deixa essa brecha. Corina vai se tornando muito semelhante ao dr Martin com o passar do tempo. Mas, enquanto que o último se acovarda, ela permanece porque ela sabe que não tem nada a perder no final. Não vou dizer o que é para não soltar spoilers, mas eu me vi entristecido pela personagem seguir aquilo que ela sentia.

A edição é bonita e elegante. A imagem de capa realmente chama a atenção do leitor com um uso de cores fortes como o azul-escuro e o laranja. A fonte é agradável aos olhos e não cansa o leitor.

As Águas-Vivas Não Sabem de Si é um livro surpreendente de ficção especulativa que merece a sua atenção. A autora apresenta muitas ideias extremamente reflexivas ao longo das páginas que fazem o leitor parar para pensar em noções que temos como naturais. A escrita é instigante e os personagens possuem um nível de sensibilidade e humanidade palpável que vão fazer o leitor se apegar a eles. Os capítulos do ponto de vista das criaturas são um espetáculo à parte.

 

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