ATENÇÃO: Contém leves spoilers do primeiro volume.
Ficha Técnica: Nome: A Dança dos Mortos Autor: Gleyzer Wendrew Série: As Crônicas da Aurora vol. 2 Editora: Auto-publicado Gênero: Fantasia Número de Páginas: 500 Ano de Publicação: 2018 Link de compra: https://amzn.to/2BruTYb Volumes anteriores: A Face dos Deuses (Volume 1) |
Em Maäen, uma guerra civil entre Zeohn Meihä e Aenor Komäert está prestes a eclodir;
Em Venn, um torneio mortal decidirá quem será o novo general do país;
Das trevas de Vatra, uma seita maligna surgiu, prometendo remodelar os alicerces arcaicos do país do Norte...
A Escuridão chegou e após a carnificina dos deuses apenas os corvos terão motivos para festejar...
ATENÇÃO: Como se trata de um segundo volume de uma série, existem alguns leves spoilers sobre acontecimentos do primeiro volume, A Face dos Deuses.
Inspirar-se em um autor é extremamente natural para alguém que está iniciando. É óbvio que a vontade de escrever vai ter sido despertada por algum livro que tocou a pessoa. Gleyzer bebe do estilo de George R.R. Martin. Isso ficou bem claro no primeiro volume. Mas, o que mais me deixou feliz neste segundo volume é como ele deu personalidade à sua própria escrita. Agora eu não estou vendo um autor inspirado na obra de George R.R. Martin; estou vendo o Gleyzer Wendrew escrevendo a sua história com as suas ferramentas. É como se ele tivesse uma imensa mala de ferramentas à sua frente e precisasse escolher quais delas seriam úteis para ele no primeiro volume. Neste segundo, de posse das ferramentas escolhidas, o trabalho simplifica muito mais.
"Como eles costumam dizer, o deus-sol está despertando. Tão patético. Sühnt é um deus fraco. Venerado apenas por eunucos e aleijados. Eles não conhecem o poder de um verdadeiro deus. O poder do ódio. O poder de Fyaär."
Sua escrita faz jus à definição de dark fantasy: suja, fétida, sangrenta. Em todos os momentos somos colocados diante de situações intensas. No primeiro volume já tínhamos visto pessoas crucificadas e queimadas e pedaços de corpos sendo atirados por catapultas. Neste segundo isso não fica para trás. Mas, se engana quem acha que a narrativa fica só nestes elementos para chocar. Aqui temos uma escrita que trabalha mais o psicológico dos personagens, revelando a nós o que eles pensam e sentem. Alguns personagens como Koran e Kazoya recebem mais tempo de tela, mas isso não significa que outros também não recebam sua parte na narrativa maior. Meu incômodo na escrita se deu mais à maneira como o autor guia o nosso olhar em uma determinada cena. Essa necessidade de nos guiar acaba criando uma obrigação de tecer parágrafos mais longos e descritivos. Não é preciso controlar tanto a cena; é possível deixar algumas premissas e impressões a cargo da imaginação do leitor. Por ex: se um copo não é importante em uma cena, eu não preciso descrevê-lo com tanto empenho. Um copo sem importância não passa de um copo sem importância. Mas, isso é um erro que mesmo um autor como Stephen King e seus bilhões de seguidores comete longamente em suas narrativas.
"Por algum motivo, o ishkan me encara. Nos olhos dele eu vejo fúria, ódio; sinto o fogo da vingança queimando em seus dentes trincados; vejo a forma como ele cerra os punhos, cheios de ira. Isso é bom. São esses os sentimentos que transformam um menino em um homem. São esses os sentimentos que ganham batalhas."
Kazoya precisa lidar com os seus sucessos. Depois de mostrar uma trama muito elaborada para alcançar seus objetivos, ele precisa revigorar esforços para demonstrar seu poder. Em seu núcleo, vemos uma competição para revelar quem será o seu general, para substituir a traição de Vlad. Por trás desse torneio vemos uma série de coisas acontecendo que vão acabar por jogar luz ao que aconteceu antes. Aqui eu não gostei muito de como o autor apresentou o plano de Kazoya. Me pareceu saído de um romance da Agatha Christie onde os personagens explicam detalhadamente o seu plano malévolo e como eles são muito inteligentes em relação aos demais. Todo o plano de Kazoya poderia ter sido apresentado em cenas esparsas espalhadas ao longo de todo o Ponto de Vista dele. Pequenas informações jogadas aqui e ali onde o leitor vai pegando essas peças e montando o cenário todo sem a necessidade de o protagonista explicar tudo. Admito que aquela cena com o Lucan mais para a frente não me agradou muito. Entendi que foi a maneira como o autor encontrou para explorar a argúcia e a sagacidade de Kazoya. Mas, dava para ser feito de outras formas.
Tem muito mais a ser contado sobre esta narrativa, o que mostra o quanto o autor evoluiu do primeiro para o segundo livro. Ele conseguiu fazer com que o leitor se importasse com os personagens ao desenvolvê-los melhor. Tendo deixado para trás os elementos básicos de construção de mundo, agora ele teve mais espaço para se focar na história e aonde ele queria conduzir seus personagens. Este segundo livro parece ser o início real de uma história maior enquanto que o primeiro volume se pareceu mais como um prelúdio. Parabéns ao Gleyzer pela evolução e eu só espero grandes histórias daqui para frente.