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Resenha: "A Dança dos Mortos" (As Crônicas da Aurora vol. 2) de Gleyzer Wendrew

22/11/2018

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Por Paulo Vinicius F. dos Santos.
Continuando de onde parou no primeiro volume, vemos Dunya repercutindo as ações do final do primeiro volume. O ishkan mostra todo o seu poder e frieza enquanto em Vall uma revolta interna bagunça as estruturas de poder. 

ATENÇÃO: Contém leves spoilers do primeiro volume.
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Ficha Técnica:

Nome: A Dança dos Mortos
Autor: Gleyzer Wendrew
Série: As Crônicas da Aurora vol. 2
Editora: Auto-publicado
Gênero: Fantasia
Número de Páginas: 500
Ano de Publicação: 2018

Link de compra:
https://amzn.to/2BruTYb

​
Volumes anteriores:
​A Face dos Deuses (Volume 1) 
Sinopse: Após os acontecimentos de A Face dos Deuses, o pequeno continente de Dünya está imerso em caos.

Em Maäen, uma guerra civil entre Zeohn Meihä e Aenor Komäert está prestes a eclodir; 
Em Venn, um torneio mortal decidirá quem será o novo general do país; 
Das trevas de Vatra, uma seita maligna surgiu, prometendo remodelar os alicerces arcaicos do país do Norte...

A Escuridão chegou e após a carnificina dos deuses apenas os corvos terão motivos para festejar...
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Uma das coisas mais satisfatórias de se ver como blogueiro é acompanhar o crescimento de um autor. Desde seus primeiros escritos até o seu sucesso e seus novos projetos. Em 2017 eu tive o privilégio de conhecer vários autores que estavam em vias de publicar os seus primeiros trabalhos. Alguns publicaram ainda em formato digital enquanto outros tentaram a sorte em uma edição física. Posso dizer que alguns deles se tornaram amigos e hoje trocamos ideias sobre escrita e outras banalidades. O Gleyzer é um desses personagens. A Face dos Deuses foi um livro realmente surpreendente para uma estréia e chamou a atenção de muita gente por conta de sua pegada, ambientação e liberdade de escrita. Com A Dança dos Mortos temos uma continuação da história iniciada no primeiro volume, mas com algumas evoluções tanto nos personagens como na escrita do próprio autor. Ao mesmo tempo isso me deixa com uma enorme responsabilidade em mãos. Se a primeira resenha que eu fiz de seu trabalho o objetivo era ressaltar o esforço e o trabalho bem realizado, agora a minha tarefa é mais espinhosa. A partir do que eu sei que o autor é capaz de fazer, preciso ser mais exigente em minha análise, destacando o que evoluiu e o que precisa melhorar. Então, certamente esta é uma resenha bem mais incômoda do que a primeira. 

ATENÇÃO: Como se trata de um segundo volume de uma série, existem alguns leves spoilers sobre acontecimentos do primeiro volume, A Face dos Deuses. 


Inspirar-se em um autor é extremamente natural para alguém que está iniciando. É óbvio que a vontade de escrever vai ter sido despertada por algum livro que tocou a pessoa. Gleyzer bebe do estilo de George R.R. Martin. Isso ficou bem claro no primeiro volume. Mas, o que mais me deixou feliz neste segundo volume é como ele deu personalidade à sua própria escrita. Agora eu não estou vendo um autor inspirado na obra de George R.R. Martin; estou vendo o Gleyzer Wendrew escrevendo a sua história com as suas ferramentas. É como se ele tivesse uma imensa mala de ferramentas à sua frente e precisasse escolher quais delas seriam úteis para ele no primeiro volume. Neste segundo, de posse das ferramentas escolhidas, o trabalho simplifica muito mais. 

"Como eles costumam dizer, o deus-sol está despertando. Tão patético. Sühnt é um deus fraco. Venerado apenas por eunucos e aleijados. Eles não conhecem o poder de um verdadeiro deus. O poder do ódio. O poder de Fyaär."

A narrativa é construída em terceira pessoa a parte de uma série de Pontos de Vista. Esta é, sem dúvida, o maior mérito do autor em sua narrativa. Conseguir empregar um vasto elenco com múltiplos núcleos narrativos em uma história concisa e direta. Porém, eu preciso ressaltar a faca de dois gumes que essa ferramenta representa. Ao mesmo tempo em que permite ao autor ser mais global em sua narrativa e apresentar um número maior de ambientes e tramas, isso pode pulverizar demais a história e provocar uma lentidão na forma de apresentá-la. Vide a dificuldade que o próprio inspirador de Gleyzer, Martin, tem para tornar a história mais direta. Como os personagens possuem seus próprios interesses e objetivos, é óbvio que estes vão trilhar seu próprio caminho. É o que alguns autores dizem com "os personagens me dizem o que querem fazer." Gosto de histórias macro, mas sob um ponto de vista mais prático, histórias micro costumam funcionar melhor. Aqui Gleyzer soube dosar bem a multiplicidade de atores. ​

Sua escrita faz jus à definição de dark fantasy: suja, fétida, sangrenta. Em todos os momentos somos colocados diante de situações intensas. No primeiro volume já tínhamos visto pessoas crucificadas e queimadas e pedaços de corpos sendo atirados por catapultas. Neste segundo isso não fica para trás. Mas, se engana quem acha que a narrativa fica só nestes elementos para chocar. Aqui temos uma escrita que trabalha mais o psicológico dos personagens, revelando a nós o que eles pensam e sentem. Alguns personagens como Koran e Kazoya recebem mais tempo de tela, mas isso não significa que outros também não recebam sua parte na narrativa maior. Meu incômodo na escrita se deu mais à maneira como o autor guia o nosso olhar em uma determinada cena. Essa necessidade de nos guiar acaba criando uma obrigação de tecer parágrafos mais longos e descritivos. Não é preciso controlar tanto a cena; é possível deixar algumas premissas e impressões a cargo da imaginação do leitor. Por ex: se um copo não é importante em uma cena, eu não preciso descrevê-lo com tanto empenho. Um copo sem importância não passa de um copo sem importância. Mas, isso é um erro que mesmo um autor como Stephen King e seus bilhões de seguidores comete longamente em suas narrativas. 
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"Por algum motivo, o ishkan me encara. Nos olhos dele eu vejo fúria, ódio; sinto o fogo da vingança queimando em seus dentes trincados; vejo a forma como ele cerra os punhos, cheios de ira. Isso é bom. São esses os sentimentos que transformam um menino em um homem. São esses os sentimentos que ganham batalhas."

Temos três núcleos claros neste segundo volume: Vall e a revolta interna; Kazoya e o surgimento dos hraoos; e a Guerra do Sol acontecendo em Maaen. No primeiro núcleo temos um desenvolvimento maior de Koran, um personagem que eu havia gostado muito no primeiro volume. Ali eu já havia percebido que o autor possuía grandes planos para o personagem. O que eu percebi neste núcleo é uma humanização do Ceifador de Almas. Ele é um soldado cruel, contando com a fúria de Fyaar? Certamente. Mas, ele não deixa de ser um homem passível de amar. Este amor ele vai encontrar no último lugar onde ele imaginava com alguém ainda mais improvável. Claro que o personagem vai precisar mudar seus planos à medida em que surge uma nova ameaça. Se no primeiro volume, Vall é um lugar onde a intriga e a traição estão por toda a parte, neste segundo, temos uma união de objetivos. E tudo porque a elite se esqueceu de que havia uma enorme porcentagem da população tratada como lixo. Quando estes se revoltam acabam sendo absorvidos por um novo poder que consegue unir esforços para destruir todo esse jogo de intrigas. Não importa mais quem é K'Vookh, Blo'Siankh, Sh'Faeln; importa quem é vatriano e por que defende os seus ideais. Lógico que existe uma pessoa por trás que não coaduna seus objetivos com os da população. 

Kazoya precisa lidar com os seus sucessos. Depois de mostrar uma trama muito elaborada para alcançar seus objetivos, ele precisa revigorar esforços para demonstrar seu poder. Em seu núcleo, vemos uma competição para revelar quem será o seu general, para substituir a traição de Vlad. Por trás desse torneio vemos uma série de coisas acontecendo que vão acabar por jogar luz ao que aconteceu antes. Aqui eu não gostei muito de como o autor apresentou o plano de Kazoya. Me pareceu saído de um romance da Agatha Christie onde os personagens explicam detalhadamente o seu plano malévolo e como eles são muito inteligentes em relação aos demais. Todo o plano de Kazoya poderia ter sido apresentado em cenas esparsas espalhadas ao longo de todo o Ponto de Vista dele. Pequenas informações jogadas aqui e ali onde o leitor vai pegando essas peças e montando o cenário todo sem a necessidade de o protagonista explicar tudo. Admito que aquela cena com o Lucan mais para a frente não me agradou muito. Entendi que foi a maneira como o autor encontrou para explorar a argúcia e a sagacidade de Kazoya. Mas, dava para ser feito de outras formas. 
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Preciso admitir que o núcleo maaeno foi meu favorito neste segundo volume. Isso porque as motivações de Morgan e Zeohn são tão cinzas que você não sabe para quem torcer. Mais para a frente vamos ficar sabendo um pouco dos bastidores da traição no primeiro volume, mas até ali Aenor, Zeohn e Morgan se equiparam em motivações. Morgan é o homem da manipulação e dos acordos, e dos três seu objetivo é o mais escuso. Entretanto, sua motivação vem de um defeito muito simples: inveja. É fácil entender e às vezes se simpatizar com um personagem invejoso. Sabemos o que esperar dele. Zeohn possui um espírito ético semelhante ao de Heros. Mas, suas ações acabam sendo atrapalhadas por ele não saber de minúcias do que está acontecendo ao seu redor. Por conta disso, ele acaba por tomar decisões erradas e precisa lidar com as consequências delas. Já Aenor é um guerreiro. Ele entende o preto e o branco. Não há meio termo. Se ele não gosta de alguém, ele vai dar um soco na cara e se lembrar do motivo depois. Gostei muito da forma como Gleyzer conduziu a Guerra do Sol e ela foi a que mais me deixou empolgado por cenas dos próximos capítulos. O autor deixou um status quo muito interessante e conflitos que estão borbulhando ao fundo que precisarão ser definitivamente solucionados mais cedo ou mais tarde. 

Tem muito mais a ser contado sobre esta narrativa, o que mostra o quanto o autor evoluiu do primeiro para o segundo livro. Ele conseguiu fazer com que o leitor se importasse com os personagens ao desenvolvê-los melhor. Tendo deixado para trás os elementos básicos de construção de mundo, agora ele teve mais espaço para se focar na história e aonde ele queria conduzir seus personagens. Este segundo livro parece ser o início real de uma história maior enquanto que o primeiro volume se pareceu mais como um prelúdio. Parabéns ao Gleyzer pela evolução e eu só espero grandes histórias daqui para frente. 

 

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