Originalmente o Halloween é uma festividade pagã. Ela ocorre entre os dias 31 de outubro e 2 de novembro e significa o fim do verão e se preparam para a chegada do inverno. A própria palavra que define o Halloween é Samhain que, em gaélico, significa o período que simboliza a transição entre a estação mais quente e a mais fria. Vamos nos recordar de que as populações pagãs eram normalmente agrárias, valorizando o contato com a natureza o melhor possível. Sacrifícios eram realizados quando necessário para agradar aos deuses e ajudar de alguma forma no plantio e na colheita. Ou seja, quando uma família não tinha uma boa colheita, o insucesso era atribuído à ira divina ou a falta de dedicação da família para agradar uma divindade. Ou seja, o Samhain era uma maneira de celebrar a abundância de comida, uma maneira de agradecer aos deuses.
Mas, existe uma outra vertente de historiadores que identificam o Samhain a partir de um ponto de vista mais sobrenatural. A data indicaria a abertura dos portões do outro mundo e a festa seria dedicada ao Rei dos Mortos. Ao realizar a festividade, a comunidade estaria agradando-o e afastando os espíritos maus do contato com os vivos. O Samhain era comemorado nas ilhas britânicas até a chegada dos romanos em 46 d.C. quando a festa começa a ser alterada por conta do contato com outros povos. A própria palavra Halloween é uma declinação do All Hallow's Eve, comemorado na véspera do dia 2 de novembro, quando se celebravam os mártires e santos. Ou seja, quando o Samhain tem seu nome alterado para Halloween já temos aqui a influência cristã. É importante destacar a presença sempre de fogueiras. Para os pagãos, grãos eram queimados como uma forma de sacrifício, uma agradecimento pela boa colheita. Já posteriormente as fogueiras passaram a ser um elemento predominantemente alegórico. Vale destacar a boa descrição que Bernard Cornwell faz do Samhain no terceiro volume das Crônicas de Artur quando Derfel comemora com os seus homens o fim do verão. São realizadas celebrações por vários dias em que a comida é distribuída livremente.
Não dispomos de tantos relatos assim sobre esta festividade porque muito da cultura céltica era oral. As tradições eram passadas através de um contador de histórias que falava sobre os hábitos e costumes da comunidade ao redor de uma fogueira para todos. O contador de histórias era uma figura tradicional nessas comunidades e sua habilidade era valorizada acima de tudo. Por isso, esses povos acabavam não registrando os seus hábitos. Muito do que sabemos são relatos de viajantes como Estrabão, Políbio entre outros. Porém, isso significa que temos uma visão latinizada sobre a cultura pagã. Muitos desses relatos são conflitantes e como não havia um padrão na celebração da festividade, poderia haver variações em como cada comunidade interpretava o Samhain. Alguns costumes como a data e a maneira de se celebrar o Samhain.
Os padres cristãos acabaram alterando alguns costumes pagãos. O uso da fogueira agora era atribuído ao guiar as almas cristãs para saírem do purgatório e conseguiram ascender aos céus. Mas, em alguns momentos da história, o Halloween teve atribuições mais curiosas. Por exemplo, durante o século XIV tivemos um surto de peste bubônica que matou mais de um terço da população europeia. Queimar o joio significava afastar o miasma (a aura ruim trazida pelos maus espíritos) para fora da cidade. Ou poderia ser usado para "retirar' os poderes mágicos de uma bruxa que estivesse sendo acusada pelo Tribunal do Santo Ofício.
A ideia de pegar doces também é uma construção católica. Na Idade Moderna, as crianças iam de casa em casa e pediam uma espécie de bolo que simbolizava o espírito de uma pessoa que havia conseguido se libertar do purgatório. Para receber o bolo de boa sorte, a criança precisava cantar uma canção ou uma rima de forma a agradar os membros de uma casa. Nesse período da peste bubônica, a Igreja criou várias imagens alegóricas do Dia de Todos os Santos alertando as pessoas de sua mortalidade. Algumas dessas pinturas representavam uma encenação de algum tipo de festividade macabra com homens mortos dançando em rituais escabrosos. Era uma doutrinação pesada da Igreja que se via nesse momento ameaçada pelo surgimento das religiões protestantes que se espalhavam por várias regiões europeias. Era o doutrinar pela intimidação que não funcionou da maneira que foi esperada.
A brincadeira do trick or treat ("Gostosura ou Travessura") surgiu durante a perseguição protestante na Inglaterra. A dinastia Stuart acabou adotando o anglicanismo, uma variante do calvinismo suíço, como religião oficial. Durante um período dessa dinastia houve uma intensa perseguição aos cristãos com a destruição de igrejas, o fim dos privilégios eclesiásticos e o exílio de muitos padres e monges. Revoltados contra a proibição até mesmo de realizarem missas, alguns sacerdotes planejaram um ataque ao rei George I em que eles explodiriam a sua carruagem durante uma celebração real. O plano foi descoberto e alguns sacerdotes foram enforcados.
Já o uso de abóboras é uma invenção norte-americana. Já vimos que o joio era usado para guiar os espíritos, mas o símbolo mais marcante da cultura norte-americana é o milho. Ele tomou o lugar do joio se tornando um símbolo decorativo nas casas que se preparam para o Halloween. Junto com o milho vieram algumas lendas curiosas como a do espantalho que seria um espírito preso a uma cruz para afastar os espíritos ruins das plantações e a lenda de Jack O'Lantern. Jack seria um ferreiro que foi mais esperto que o diabo e vagava pelos campos. Outra variação da lenda diz que Jack ludibria o diabo e o faz subir uma árvore. Jack consegue descer e entalha uma cruz abaixo da árvore para que o diabo não possa descer mais. Ele faz um acordo com o diabo para que não leve o seu espírito. Alguns autores acreditam que o hábito de entalhar abóboras teria vindo do mito de Jack, mas reforçada pela lenda do cavaleiro sem cabeça criado pelo autor Washington Irving.
Outras culturas também celebram a mesma data. Eu queria destacar o Dia de Los Muertos, um costume mexicano. Ele é um costume indígena que tem como função honrar os mortos. Esse é um costume bem anterior à chegada de Cristóvao Colombo e era parte de um período do ano em que os povos indígenas celebravam a vida dos mortos. Eram contados histórias da vida do falecido, destacando seus pontos altos e até mesmo momentos engraçados. Celebrar a vida do morto era honrá-lo, Havia comunidades que guardavam restos do morto como o crânio ou o rádio como troféus e estes restos eram utilizados em um ritual que simbolizava a morte e o renascimento. O Dia de Los Muertos é um período de dois dias em que os portões do outro mundo se abrem e os mortos voltam ao mundo dos vivos e visitam os seus familiares. É comum as famílias prepararem as comidas que os falecidos mais gostavam e deixarem em altares dedicados a eles. A deusa da morte das comunidades pré-hispânicas era Mictecacíhuatl, mas hoje ela é associada a uma personagem criada por Jose Guadalupe Posada conhecida como La Catrina.
No Brasil, o dia de Finados é uma celebração católica de forma a honrarmos aqueles que já se foram. Ao visitarmos os túmulos dos falecidos e decorando com flores e outros elementos estamos deixando que os mortos saibam que não nos esquecemos deles. É uma forma de manter a memória do falecido viva. Em 2003, o deputado Chico Alencar (PSOL) tentou criar o Dia do Saci, uma forma de valorizarmos o folclore brasileiro em detrimento de importarmos alguma coisa de uma cultura que não a nossa.
E aí? O que achou? Agora já podemos enfeitar as nossas casas e comemorarmos o Halloween da maneira que mais gostarmos. O importante é que a celebração tenha alguma finalidade construtiva para nós. Eu sou sincero e afirmo que não comemoro Halloween. Mas, todos os anos eu comemoro Finados, pois tive uma criação católica. Não sou uma pessoa muito religiosa... longe disso. Mas, acredito que nos recordarmos daqueles que já se foram é algo positivo, pois esquecer nunca é bom. Se eu passei alguma informação imprecisa, deixe nos comentários. Comentem também como vocês enxergam o Halloween, e se comemoram ou não.